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Faxina da Alma

Por Debora Sena

 

 

Em medicina, diz-se que Síndrome é “um conjunto de sinais e sintomas”, não sendo sinônimo de doença, mas podendo abranger vários transtornos. A síndrome depressiva, por exemplo, é caracterizada por um humor predominantemente entristecido ou irritado, por sentimento de culpa, por pensamentos de morte ou ruína, caracterizadas por marcado pessimismo, e por alterações ditas neurovegetativas, como alterações do sono ou do apetite. Podemos encontrar a síndrome depressiva no Transtorno Depressivo (unipolar) – a chamada “Depressão” –, na Depressão Bipolar do Transtorno Bipolar do Humor, no Luto Patológico, entre outros.

 

O Transtorno Depressivo é uma das doenças que mais cresce, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). O Brasil é o país com maior taxa de Depressão na América do Sul e até 2015 o país contava com mais de 11 milhões de deprimidos. Além disso, a depressão é a doença mental mais comum e pode acometer todas as idades, de crianças e idosos.

 

O tratamento da depressão pode ser dividido em farmacológico e não farmacológico. O primeiro compreende o tratamento medicamentoso, enquanto a segunda modalidade inclui a psicoterapia e a aquisição de bons hábitos, como a atividade física e a vivência de espiritualidade. Sempre acredito que para nós cristãos, há mais.

 

Em artigo anterior, abordei sobre a importância de se prevenir o adoecimento mental e como poderíamos fazê-lo. Uma das nossas armas contra o adoecimento é o perdão. No entanto, mesmo com a doença já instalada, o perdão ainda continua sendo uma arma, mas nesse caso, para a recuperação.

 

Gosto de pensar no perdão de duas maneiras, didaticamente: como uma faxina e como uma escada. Explicarei cada uma delas.

 

O primeiro sentido, abordado pelo psiquiatra cristão Fabio Damasceno em seu livro A Psicologia do Perdão, traz o perdão como um dos passos para a cura da alma. O acumulo de magoas seria o equivalente ao acumulo de lixo, que com o tempo traria mau cheiro e doenças. Portanto, o perdão seria equivalente à uma limpeza necessária para a cura de feridas passadas e consequente cura. Nesse ponto, permito-me traçar um paralelo com a depressão. Um dos principais sintomas nesse transtorno é o sentimento de culpa. Muitas vezes a culpa não tem nenhum motivo de ser, porém em outras muitas vezes, a culpa é uma ruminação de um erro cometido outrora e que denuncia uma das grandes faltas de perdão: a si mesmo.

 

O segundo sentido, por sua vez, fala do perdão como um processo, no qual se sobe um degrau por vez. C. S. Lewis em seu livro Cristianismo Puro e Simples relata que o perdão seria a “menos popular” das virtudes cristãs. Lewis compara o perdão ao aprendizado matemático, dizendo que não se inicia pelos cálculos mais complexos, mas sim pela aritmética simples. De igual modo, devemos iniciar pelo perdão de coisas simples, como por exemplo, uma palavra dura dita por um familiar na semana anterior. Aos poucos chegaremos no cálculo mais complexo e também no perdão daquilo antes tido como imperdoável.

 

Gostaria de finalizar com uma história. Viktor Frankl foi um psiquiatra vienense nascido em 1905. Por ser judeu, foi levado a um campo de concentração em 1941, onde permaneceu por 4 anos. Alguns anos antes de sua deportação, havia recusado um visto americano para si. Depois de vivenciar traumas diversos no campo, inclusive a perda de seus pais, irmão e esposa, Frankl escreveu sobre o sentido da vida. Além de ter tido que perdoar a seus algozes para se reerguer, teve de perdoar a si mesmo por uma escolha aparentemente errada ao recusar o visto americano. Muitos anos após sua liberdade do campo, Frankl escreveu O amor é a única maneira de captar outro ser humano no íntimo da sua personalidade. Ninguém consegue ter consciência plena da essência última de outro ser humano sem amá-lo”. Frankl descobriu o caminho para o perdão de si mesmo e de outros e criou a Logoterapia, a terceira escola vienense de Psicoterapia que fala sobre a busca para o sentido da vida e de como esse sentido seria a principal força motivadora do ser humano.

 

Tanto para aqueles que já adoeceram como para os que buscam cura para a alma, o perdão é um caminho a ser trilhado. Em degraus e com muita dor, mas certamente com um final restaurador e gratificante.


 

 

 

 

Débora Costa Sena Pereira Cordeiro é Médica Psiquiatra, formada pela EMESCAM, com especialização em Psiquiatria pelo Instituto de Psiquiatria da UFRJ (IPUB-UFRJ), mestranda em Saúde Preventiva pala UFES.

 

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