28.03.2016
A mesa da comunhão é um dos temas centrais no Evangelho de Lucas. Temos a mesa de Levi (o cobrador de impostos); a mesa do fariseu e a mulher pecadora; a mesa de Marta e Maria e tantas outras.
Mas a mesa principal em Lucas (capítulo 22) é a mesa da Páscoa, da Última Ceia. Há um paralelo entre a Páscoa da mesa (dos discípulos) e a Páscoa do templo (dos sacerdotes). Ambos têm algo em comum, a Páscoa – A celebração do povo de Israel por conta da saída do Egito – mas têm também compreensões diferentes.
A Páscoa do Templo tem sacrifícios, tem comida em abundância. É sinônimo de alegria, de celebração. Há pessoas, a priori, consagradas por Deus para levar o povo à adoração e conduzir uma das festas mais importantes do povo de Israel, a Páscoa. Em outro cenário está Jesus e seus discípulos para comer a Páscoa em uma casa ao redor de uma mesa. Lucas coloca uma diferença peculiar aqui. Há a Páscoa do Altar (sacerdotes) e a Páscoa da mesa (discípulos). A Páscoa do Templo e a Páscoa da mesa há um contraste proposital colocado por Lucas – aliás, Lucas faz esse paralelo no capítulo um também, quando faz uma ponte entre o sacerdote Zacarias, que recebe a visitação do Senhor (anjo) no Templo e duvida, e a moça camponesa (Maria) recebe a visitação do Senhor (anjo) em um casebre e aceita a mensagem. No capítulo 22, Lucas coloca a Páscoa do Templo (sacerdotes) com sua preocupação cerimonial, com sua santidade, com suas leis, seus sacrifícios. O Templo é um lugar onde os sacerdotes estão a serviço de Deus e a favor do povo, pelo menos deveria ser assim. Tudo isso é uma prerrogativa do Templo, da instituição. Está dentro da legalidade; está dentro da concepção teológica de Israel. Portanto, o Templo era o lugar (ou deveria ser) legítimo da celebração pascal.
Mas é no Templo que ocorre a trama da traição em troca de dinheiro. Isso se dá porque o sistema religioso quando perde o seu propósito tenta eliminar qualquer ameaça a sua estrutura. A religião quando institucionalizada, geralmente se preocupa em arrumar o altar, em preparar o sacrifício, mas também desconsidera a vida, o ser humano quando pretende defender o sistema religioso. Em outras palavras, Lucas está dizendo: O Templo não serve mais para celebrar a Páscoa. Por outro lado ele está dizendo: não é mais um Templo, e sim uma casa; não é mais um altar e sim uma mesa; não é mais um sacrifício e sim um pão repartido; não são sacerdotes, mas sim irmãos.
É na mesa que os discípulos são testados; é na mesa que se descobre o traidor; somos testados na mesa, quando discutimos quem é o maior (vs. 24-27); na mesa só deveria haver irmãos. Mateus e Marcos colocam essas palavras quando Jesus está indo para Jerusalém (Mt 20,25-28; Mc 10,42-45). Já Lucas coloca essas palavras na mesa, ou seja, na celebração da Páscoa.
Lucas está dizendo entre o altar e a mesa, a comunidade fica com a mesa; não é mais o sacrifício, agora é um pão; não são reis, agora são irmãos. Que tenhamos uma celebração da Páscoa em torno da mesa e não do altar.
Alonso S. Gonçalves, pastor da Igreja Batista Central em Pariquera-Açu – SP
Fonte: www.batistas.com